João Lucas Batista
Jornalista
Bitcoin: a moeda de hoje, e de amanhã?
A moeda virtual que surgiu em 2008 e tem grande valor de mercado, atrai muitos investidores. Como ela chegou a esse patamar? Será que isso vai durar?
Texto na íntegra
Reportagem - Revista Foca em Foco
Hoje o valor do bitcoin gira em torno de 40 a 50 mil reais (à época, março de 2020). Mas tudo era bem diferente no início. A moeda praticamente não tinha valor comercial. O programador húngaro-americano Laslo Hanyecz fez o que foi considerada a primeira transação por bitcoins conhecida: comprou duas pizzas de seu amigo Jeremy Sturdivant por - pasmem - um montante de 10 mil bitcoins. Hoje, isso vale cerca de 500 milhões de reais (a época). Com certeza as pizzas mais caras da história, não?
Certo, mas se o valor é tão grande e o dinheiro era virtual, por que não se fazem bitcoins a cada esquina? Não é tão simples. Para se produzir um bitcoins é necessário um computador superpotente, capaz de organizar as diversas linhas de de criptografia que nele contém. Criptografia: conjunto de princípios e técnicas para cifrar a escrita, torná-la ininteligível para os que não tem acesso às convenções combinadas - longa explicação do Google -, e isso torna o bitcoin ''incopiável''. Além do sistema da blockchain, que simula as funções de um banco comum, mantendo esse sistema financeiro próprio, que conecta pessoas (onde todos os que estão ali podem saber das transações que ocorrem). De acordo com isso, a moeda atrai investidores que valorizam a privacidade em seus negócios.
Seu real valor como moeda está na escassez. O 'dinheiro comum', que é utilizado cotidianamente, deveria supostamente ter lastro, ou seja, deveria ser possível trocar no banco o valor do dinheiro por ouro; sendo o dinheiro em notas de dólares e reais uma espécie de 'vale-ouro'. ''O paralelo do bitcoin não é com o dólar, ou com o real, seu paralelo é com o ouro. É uma coisa escassa, que tem valor intrínseco e que pode ser trocada pelas pessoas'', diz Raphael Lima, criador do canal do YouTube 'Ideias Radicais', voltados a pautas de liberdade, com foco na filosofia do libertarianismo.
Transações
Outro fator importante é a troca feita no sistema blockchain. Ali, as transações da criptomoeda ocorrem sem interferência governamental e com uma velocidade impressionante. Neste caso, as transações são eficientes e os adeptos das 'criptos' conseguem fugir de taxações governamentais. Por conta disso, a moeda em seu início era modo de troca de mercadorias e serviços na 'deep web'. No submundo da internet, o bitcoin comprava drogas e outras coisas ilegais. Porém, isso já é passado.
O investimento em bitcoins é algo realmente novo e tem tido maior aceitação pelos jovens. Caso do estudante Matheus Troni, de 21 anos, que conheceu a ideia da criptomoeda enquanto frequentava o Ensino Médio e, hoje, investe em bitcoins. ''Invisto porque acredito no conceito da moeda e que vai se valorizar muito no futuro'', diz o estudante que compra bitcoins por uma agência especializada. ''Investi mil reais no começo de 2019. Depois, cem reais a cada mês. Estou satisfeito e seguro com o investimento'', completa.
Bolha
Mas com esse valor monetário tão alto, a supervalorização da moeda não é indício de uma bolha? Segundo o economista, Wiliam Retamiro, sim. Para ele, as criptomoedas, como o bitcoin, vieram para ficar, mas existem várias restrições aplicadas a elas pelos órgãos monetários tradicionais, como bancos centrais.
Além disso, por não ter fiscalizações, o mercado pelo ser manipulado. ''Uma bolha como a de 2008 envolveu uma sociedade muito ampla. Como o bitcoin é concentrado nas mãos de poucas pessoas, a tendência de prejuízo é muito menor.'', diz o economista. Além da possibilidade de bolhas, para Retamiro existem desvantagens em se investir em criptomoedas. ''A falta de um fundo garantidor de crédito. Para compararmos com uma situação convencional, quando um banco ou companhia de seguros quebra, existe um fundo garantidor de crédito do Banco Central que vai dar respaldo aos clientes. Como o bitcoin não é reconhecido pelo Banco Central, nada garante os pagamentos''.
''O bitcoin mudou as relações comerciais, e tem sua função social de romper a tradição e repensar o sistema econômico global''. - Wiliam Retamiro, economista
A economia é um campo dinâmico e instável. A influência do bitcoin é realidade. Basta saber se isso será duradouro, e como a economia se comportará.
